Semiótica: entre Kant e Hegel
Bom Momento (1997), Goca Moreno.
Escrevi esta frase em um comentário no blog do Tiago: “Aliás, será que tudo é mediação?”. É ou não é? É e não é? Segundo os semióticos, toda a experiência humana é mediada e sustentada por signos. Ou seja, acesso direto ao Real nós não temos. A nossa mente produz representações da realidade (signos), mas que não são a realidade em si mesma. Os signos têm o poder de representar o objeto apenas em determinado aspecto. O que, convenhamos, é óbvio. Se o signo pudesse representar inteiramente o objeto, ele não seria somente um signo, mas o próprio objeto.
A semiótica (e a desconstrução que ela traz) é interessante para uma melhor compreensão de algumas linguagens. Contudo, ainda fico com a intuição para a tentativa de compreender a vida. Isso porque a vida é um emaranhado de outros milhões de emaranhados que se emaranham entre si (filosofia pura! rs, rs). O que me resta saber é se a semiótica pode ajudar na compreensão de uma obra literária. O meu TCC é sobre isso, basicamente. Tenho minhas dúvidas, ainda bem, se ela (a famigerada semiótica) dá conta de uma “superinterpretação”. Sei lá!? E não me desespero. Pesquisar é, antes de tudo, duvidar.
Cada vez que penso sobre o meu TCC, me sinto como alguém que, entre milhões de teias (de aranha ou de algum outro bicho menos assustador que também “teie”), tateia no escuro. Tudo é mediado, enfim, na escuridão? Não, acho que não. Apenas a nossa percepção dos fenômenos – e isso já é muito!
7 Comments:
Bom, Umberto Eco, o guru da semiótica italiana, já escreveu muito sobre semiótica e literatura. E num toque de mestre, muitas vezes quem realmente diz o que ele pensa são os personagens de seus romances e não algum impessoal autor de um estéril ensaio acadêmico. Além dele há vários autores interessantes como o (creio que neo-kantiano) Bakhtin, um que nunca me empenhei o suficiente para entender direito (leia: mal sei explicar por cima o que pensa).
O que conheço mais (até porque estudei dias atrás) é Umberto Eco. Segundo ele, uma obra literária, do ponto de vista semiótico, é um campo (e na forma mais agrícolo possível) de sentidos e não uma cadeia, que portanto só pode ser entendido como potencial aberto e dinâmico de significados. Ele brinca muito com o fato de vermos em uma obra um significado muito diferente daquele previsto pelo autor, e principalmente com os autores que propositalmente deixam suas obras ambíguas: obras literárias de leituras unívocas seriam as menos válidas. Um exemplo perfeito disso são as dezenas de planos de leitura de "O nome da rosa" que se reduzem um pouco para aqueles que não conhecem a política italiana das décadas de 70 e 80.
Entrando um pouco na análise de discurso da linha européia, as palavras seriam realmente meras manchas de tinta que só fazem sentido no contexto. Algo que pessoalmente acho interessantíssimo a respeito é a função da "ironia das entre-linhas": afinal, onde está, realmente, o significante?
E entre Hegel e Kant, neste ponto, fico mais com Hegel: há alguma forma melhor de se avaliar a linguagem do que afimar que a força de uma mente só é grande quanto sua capacidade de expressão e compreensão? Da vez que comecei a entender Kant, havia num livro dois círculos (o "sujeito" e o "objeto") ligados por setas; semprei me perguntei se ao menos uma destas setas não seria a linguagem...
Boa sorte com entre as teias, mas cuidado com as aranhas ;)
Achei um resumo do Eco na internet (http://www.letteratour.it/teorie/A05italia01.htm) vou traduzir:
Umberto Eco, empenhado principalmente na fundação de uma semiótica geral, aprofunda o papel interpretativo do destinatário que explicita aquilo que o texto diz não diz mas promete (subentende). O leitor é o princípio ativo da interpretação textual porque possui uma competência intertextual, ou seja "nenhum texto é lido independentemente da experiência que um leitor possui de outros textos". O aparato teórico que Eco elabora e bastante complexo e, sem nenhuma pretensão de exaustão, pode-se retomar apenas o fato de que o leitor é chamado a colaborar com suas previsões quanto ao desenvolvimento da "fabula" (n.d.t.: no contexto semiótico) configurando um mundo possível: o entrelaçar-se de mundos possíveis complica as previsões emergentes das inferências do leitor, evidenciando a ambigüidade e a abertura conotativa do narrar literário.
Ah, q aula eu recebi agora:)
bjos moço!
caramba..
eu tô lendo o bakhtin pro tcc, se precisar... :)
Primeiro: pelo MSN estou como tiago.tresoldi@terra.com.br, mas entro muito raramente (sobretudo nestes dias que estou atrasado com a faculudade italiana).
Quanto à semiótica: engraçado, eu estava conversado sobre Pierce com minha namorada ontem mesmo (talvez ela comece um trabalho sobre isso, nem sei direito o quê). A noção triangular do Pierce significado/significante/coisa é interessante, mas também como leigo ainda fico com dúvidas se esta não seja uma cadeia (porque, não havendo uma intermediação entre o significado e a coisa, Kant me parece perder um pouco o sentido... não estaríamos querendo apreender por completo a coisa?). Um dos problemas entre a tríade (xi, estou falando em geometria demais!) Saussure/Eco/Pierce é que os dois primeiros se aplicaram mais a fatos reais (eu diria até mesmo empíricos) e o último mais à filosofia (e eu diria até mesmo racionalismos). Se depois juntamos Wittgenstein para dizer que desta discussão não vai resultar nenhum solucionamento, tá feita a salada; :)
Ah verdade é que como bom europeu vejo com desconfiança este pragmatismo americano: me parece que a estética fica de fora. Quanto ao Eco, não podemos esquecer que ele é aficcionado por Idade Média (é um dos maiores especialistas em 1200/1300) na ótica de São Tomás. Pena eu não saber muito sobre Pierce para comentar melhor!
Nossa, se seu blog for pobrinho... não tem como! Ainda mais depois dessa explanação filosófica toda!:)
po, que dilema pablo! Postei no blog aos teus pedidos. :D Quando será o sarau?
Post a Comment
<< Home