Friday, April 28, 2006


A barca de Dante (Delacroix).

Reconduzo-me pela mão aonde nunca fui. Temo que caminhe à parte mais parte de mim, onde o lugar do meu mais terrivelmente se faça e onde me seja, assim, simplesmente, eu: o eu diante da morte.
Mas supro que não vou morrer. Ao menos não deveria, reflito. Pouco disse, pouco fiz, pouco fui. E neste ritmo em que sigo precisarei de mais, bem mais, três vezes mais. Talvez por isso, aliás, por necessidade, creia na vida eterna: eis que preciso de tempo.
Porém, do impreciso. Não quero o tempo dos relógios, “necrológios”. Quero o tempo dos parques, das mãos dadas, das caducas folhas. Quero o tempo dos inexatos não dizeres, confusas declarações. Quero o tempo do teu no meu braço dado, aos caminhos, sempre. Quero tempo do rolar da pedra, da morte da morte, solidão em travessia: ressurreição.

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