Depois desta ausência de dezembros, áridos desertos, eis-me de novo às voltas com certos meus escritos: comigo mesmo, às voltas.
RemembrançasEu me recordo do tempo que não vivi – e sinto saudade. Como se estranhamente morresse antes mesmo de haver havido. Sofro a solidão mal curada, inacostumável: fria e dolorosa, dolorosamente fria. Mas firmo, inconteste, meus pés num chão que não há, não nunca, houve. E quero-me mais, maior do que isto que sou. Mas sei lá se alguém ou algo me ouve nesta galáxia de leite que se move desde sempre, tanto tempo atrás. Sei lá se alguém se importa, enfim.
QuereresPinto quadros a cuspe, e me rio: sangue e solidão. Quero e digo, redigo: não. Não quero isso que todos querem. Quero nem mesmo o contrário. Quero-me, simplesmente. Encontrar-me por entre as coisas todas: garfos, fitas, facas, sinos, mesas, luas, gritos, vidros, macas, nossas, minhas, suas. Quero entender o sentido disso tudo. Saber por que sou, sinto e necessito sentir - ser. Se Deus existe no entre gemidos deste vale? Ai, lhe digo, me creia ou não: sim, mas às vezes não. Não parece que. Se esconde-esconde, brinca.