A incurável mania de pensar...Por adorável culpa de um alguém, tenho pensado mais no sentido disso tudo. Sim, disso tudo mesmo a que chamamos vida. O mundo me parece absurdo, às vezes: chove e faz sol ao mesmo tempo!? E o que dizer, então, das flores que insistem, corajosa e milagrosamente, em sorrir no meio do inverno? O que dizer desse povo de meu deus, brasileirinho, que samba com suas mil-e-tantas misérias cotidianas? O que dizer de mim que não sei sambar? Talvez eu nem chegue ao próximo carnaval. Que sei do amanhã? Tenho é o hoje, o imediato instante, e muitos medos... A cada segundo, um novo olhar de um antigo medo me desinquieta, me espia, assombra, e assusta: de partir, o medo-Mêdo: assim, infelhicendo. O consolo, sinto-o, é que as coisas belas existirão sem mim, sem meus olhos castanhos e, por vezes, tristes. Ser feliz, eu quero, simplesmente: pão e paz. E acho que nasci pra não ter outro em meus gostos igual, porque preciso enxergar onde não há nada para ser visto, cegamente, ver não vendo: o ser das pessoas, o avesso das coisas. Ser feliz na felicidade, eis-me: e ainda mais feliz ainda, eis-me-eu, na tristeza. O que devo dizer, por fim? Cansei? Não. Nem tanto. Devo dizer que gostaria de tirar leite da pedra com minha poesia? Ah, mas acontece que só tiro pedra da pedra, com minha poesia. Não movo, não comovo. Desarranjo as palavras, só pelo gosto de desarrumar. Mas pra quê? Sei de mim? Pouco. Apenas reconheço que a métrica – milimétrica, a antivida – me irrita! Se me encontrasse com Camões, desarrumaria o seu cabelo (sei lá se ele tinha cabelo arrumado, mas vá lá...). Gosto do encanto das coisas em dês. Gosto de Gaudí, de Dalí, de Whitman, de Rimbaud, de Quixote. Gosto dos segregados, dos lazarentos, dos miseráveis, dos sofríveis dos sofridos, das crianças, dos loucos - e das mulheres perfumadas. Antes de eu partir daqui (porque um dia, isso é certo, ninguém me segurará mais, e me irei!), me dêem abraços, perfumados, abraços, perfumados, abraços. E, às escondidas, nos cincos segundos que antecedem o fim, me dêem um trago de vinho vivo, vermelho - animadamente roubado de uma safra feliz -, pra eu chegar Lá tontinho, tontinho... E tomar, alegremente e descalço, meu lugar no coro. E ter na mente, sempre, cantando, o Lá...