Thursday, July 28, 2005

outras palavras, apenas...


as dores pra longe...

A crueldade cotidiana
Ontem vi o lixo, traiçoeiro, catando o homem. E todos os seus desesperos nossos, revi. Vontade que me deu foi de mandar parar tudo. E tudo colocar de novo no antigo novo lugar. Fui capaz? Estremeço. Há as coisas que, por ora, me ultrapassam, trespassam. Se sei de mim é pelo que sofri. Montantes de entulhos que arrasto ainda comigo. Repare: somos todos pobres, em verdade. O homem, o lixo, o homem. Alguém me perguntará, entre tanto e tão pouco, pela beleza da vida. Sim, digo que sim: quero-quero, lá no alto.

A esperança cotidiana
Eu queria escrever como quem canta, simplesmente. Soltar meus dedos e colorir as tristezas das gentes, eu queria. O fim de todas as fomes: poesias! O avesso da palavra. Coração na ponta de cada silêncio, entrelinhas. Sim talvez não, num mesmo descompasso. O revés do revés: serve? Canções. A verdade no escuro. Silêncios. Almas. Sorrisos. E um rio imenso, sempre sempre, o rio – indo, indo: as dores pra longe.

Wednesday, July 27, 2005

palavras, apenas...


o que me faz lembrar?

Eu correspondo à pequena parte dos que quase não se correspondem. Mas quase já é muito. E me sou dos que sabem que fingem papéis, pequenos, às vezes, papelões. Atormento-me aqui. Atormento-me ali. Me represento: que em verdade meu coração abriga um desejo imenso de amar - e depois de acabado o amor, ainda mais ainda amar. Há de se impor limites a essa insistência? Ou os pastos descarecem mesmo de fechos, por natureza primeira?

O que me inquieta por acima-do-sobre é o sofrimento. O sentido dele, digo. Se preciso, é. É? Acho que nada é preciso. Ao menos em mim, nada: nada nada noves fora, zero, nada. Tudo me vem aos turbilhões, em misturadíssimas misturas: cores que não combinam em olhos outros nenhum, mas que são lindas, juntas, proximinhas. E o que me bate por dentro agora? O que me faz lembrar daquele momento de infâncias? Os senhores, posso apostar dobradas apostas, não sabem, sequer cogitaram cogitar, que a infância não é um período da vida, mas do dia. E da minha infância, o que restou de mais belo foi uma laranja. Não uma qualquer, mas de umbigo, imensa: laranja-umbigo-mundo. Mal cabia em meus braços, de tão-Tão!, a laranja: pôr-do-sol, em minhas mãos, o Pôr-do-Sol.

Tuesday, July 26, 2005

"o mel do maravilhoso..."


O tempo da surpresa, delicadeza...

O que interessa
Do profundo de mim, ouço um tic-tac. E a ponta da inquietação me assalta, assusta: o coração é um relógio? Marca os passos meus, o coração? Acho que sim, mas vejo uma vereda: o coração, no Ser do ser, dá o tom. Ao menos em mim, ele, doidinhamente ritmado, dá o tom.
E já não canto melancolias, doces tristezas. Canto o meu encanto diante das coisas não explicáveis. Canto a incompreensão, o milagre do mundo. Canto o susto do que me aconteceu, do que não me havia. Canto o que, às escondidas, os artesãos da alma moldavam, carinhosamente, em meu peito. Canto o meu pequeno sertão: minha Alegria. E quero que Roma esteja sempre, sempre, de cabeça pra baixo!

O simples relato
O semestre começou. E bem sei que ele será de apuros, tantos. De inquietudes, de madrugadas. Será um semestre de queimar, além de neurônios, a cafeteira! O prazo de entrega do trabalho de conclusão já ronda o pátio, como um cão raivoso. A preguiça ontem me convidou para jantar, e me soniferou. Mas preciso encarar, animar-me para os estudos, passar pela ponta deste funil, se quiser entrar em um funil maior, outro. Pois que venha, venham, então!

A pública confissão
Sim, três vezes sim, estou namorando. Surpresas. Eis a vida.
Se estou feliz? Como não mais poderia, eu acho. Ela entende a música dos silêncios: o desbarulho da alma. Ah, e o que mais me importa: é bochechuda!
"Vou, demais!".

Friday, July 15, 2005

outro desarranjo...


A incurável mania de pensar...

Por adorável culpa de um alguém, tenho pensado mais no sentido disso tudo. Sim, disso tudo mesmo a que chamamos vida. O mundo me parece absurdo, às vezes: chove e faz sol ao mesmo tempo!? E o que dizer, então, das flores que insistem, corajosa e milagrosamente, em sorrir no meio do inverno? O que dizer desse povo de meu deus, brasileirinho, que samba com suas mil-e-tantas misérias cotidianas? O que dizer de mim que não sei sambar? Talvez eu nem chegue ao próximo carnaval. Que sei do amanhã? Tenho é o hoje, o imediato instante, e muitos medos... A cada segundo, um novo olhar de um antigo medo me desinquieta, me espia, assombra, e assusta: de partir, o medo-Mêdo: assim, infelhicendo. O consolo, sinto-o, é que as coisas belas existirão sem mim, sem meus olhos castanhos e, por vezes, tristes. Ser feliz, eu quero, simplesmente: pão e paz. E acho que nasci pra não ter outro em meus gostos igual, porque preciso enxergar onde não há nada para ser visto, cegamente, ver não vendo: o ser das pessoas, o avesso das coisas. Ser feliz na felicidade, eis-me: e ainda mais feliz ainda, eis-me-eu, na tristeza. O que devo dizer, por fim? Cansei? Não. Nem tanto. Devo dizer que gostaria de tirar leite da pedra com minha poesia? Ah, mas acontece que só tiro pedra da pedra, com minha poesia. Não movo, não comovo. Desarranjo as palavras, só pelo gosto de desarrumar. Mas pra quê? Sei de mim? Pouco. Apenas reconheço que a métrica – milimétrica, a antivida – me irrita! Se me encontrasse com Camões, desarrumaria o seu cabelo (sei lá se ele tinha cabelo arrumado, mas vá lá...). Gosto do encanto das coisas em dês. Gosto de Gaudí, de Dalí, de Whitman, de Rimbaud, de Quixote. Gosto dos segregados, dos lazarentos, dos miseráveis, dos sofríveis dos sofridos, das crianças, dos loucos - e das mulheres perfumadas. Antes de eu partir daqui (porque um dia, isso é certo, ninguém me segurará mais, e me irei!), me dêem abraços, perfumados, abraços, perfumados, abraços. E, às escondidas, nos cincos segundos que antecedem o fim, me dêem um trago de vinho vivo, vermelho - animadamente roubado de uma safra feliz -, pra eu chegar Lá tontinho, tontinho... E tomar, alegremente e descalço, meu lugar no coro. E ter na mente, sempre, cantando, o Lá...

Wednesday, July 13, 2005

desarranjos...


a vida é confusa...

A presença do ido
A saudade em mim é feita tanta, tonta: ternuras. Travessia em mim, a saudade, caminho, derrama-se. As estrelas vêm iluminar-me o sentir, o sentido. O que escrevo, no entanto, não é vida, são somente palavras, poucas, pobres, e seus arranjos, desajeitadas combinações. E tudo o que digo talvez não cante como quero em ouvidos alheios. De meu, tudo o que mostro e tenho só tem sentido e rosto em mim, e de mim, depois. Depois?

O lado de dentro
Cada vez mais me convenço de que sou mesmo do interior. Gosto das casinhas de janelas e portas escancaradas, das ruas de paralelepípedos imensos, da igrejinha - manjedoura de tão singela, da praça com o círculo central especialmente construído para o Coreto. O interior tem outro cheiro, outro jeito de sentir o mundo. Sim, definitivamente, sou do interior. E gosto de me ser assim. Só do interior percebo o que a vida realmente é pra ser. No futuro, eu quero uma casinha no interior. Quero todas as janelas e portas mais do que abertas, o mate sempre de mão em mão, o café à espera dos lábios sedentos de confissões. Beijos, eu quero beijos, no interior. Abraços, abraços e mais abraços. As coisas amáveis estão certas mesmo, lindas, infalíveis, lá dentro, longe do desnatural barulho, no interior.

O contar
O jeito como conto é desajeito. Vaivém, ilógico. Não temo, contudo, as críticas; às titicas. Detesto em mim as historinhas com começo, meio e fim. Penso que as coisas, no ralar da vida, iniciam antes do antes e sequer terminam quando acabam. Tudo o que lembro me vem como chuva, em pancadas que se espalham e penetram camadas minhas as mais profundas. Pobre de mim que carrego um simples baldezito para recolher algo dessa água de outras auroras, outroras. Eu queria mesmo era lembrar de tudo. Ponto por ponto. Ais e eis. Talvez assim saberia se algum dia decidi mesmo o mais importante de minha vida. Decidi? Ou fui decidido? A dúvida, o que me pontua, a dúvida...

(Dei um tempo com a INTERNET. Por isso, o blog ficou às traças virtuais. Precisei retomar o fôlego. Precisei retocar, amorosamente, as cores do cuore. Voltei, enfim, mais feliz, mais eu, talvez).

Friday, July 01, 2005

lugar encantado


"...pequenina terra sertaneja"

Há dois anos inscrevi Cordisburgo em minha lembrança, sem mesmo nunca havê-la visitado. Quer dizer, nunca do jeito costumeiro, a pés e solas dos. Mas dando “patas à fantasia” já a conheço de desde o antes. Sei que me entendem. Acontece que tenho o maior orgulho de ser do Sertão!

“Cordisburgo era pequenina terra sertaneja, trás montanhas, no meio de Minas Gerais. Só quase lugar, mas tão de repente bonito: lá se desencerra a Gruta do Maquiné, milmaravilha, a das Fadas; e o próprio campo, com vasqueiros cochos de sal ao gado bravo, entre gentis morros ou sob os demais de estrelas...”, João Guimarães Rosa.