Tuesday, June 28, 2005

Em qual estação ele me pegará?


"Correndo vai pela terra, vai pela serra, vai pelo mar..."

Ouço um assobio, ao longe, devagarmente chegando.
É inverno? É verão? As folhas caem? Surgem as primeiras flores?
Quem equacionará o milenar problema do tu te ti comigo?
Quem? É a minha hora? Diga que agradeço, mas que não vou, que não quero.

Pirlimpimpim...
Tudo resolvido?

Pirlimpimpimpimpim...
O Trem vem vindo?

Pirlimpimpimpimpimpim...

O Trêêêmmmtreêêmmmtrêêêmmmtrêêêmmm...

Tchuc-tchuc-tchuc!...

Estás ouvindo?

Pirlimpimpimpimtrêêêmmm...

Tchuc-tchuc-tchuc!...

O Trem está partindo!

...cucht-cucht-cuchT ...cucht-cucht-cuchT ...cucht-cucht-cuchT

(ouve-se então a sucessão de silêncios, pós-silêncios e silenciosos após... E assim ficamos).

Monday, June 27, 2005

"Eu queria saber o amor..."


"pronto: e virou vagalumes..."

O último sábado, sem dúvida, foi um dos melhores dias de minha vida. Estive com o pessoal do nosso grupo de “Literatura e Espiritualidade”. Havíamos lido previamente o conto “A Partida do Audaz Navegante”, do Guimarães Rosa. Foram lindas, especiais demais, as conversas que tivemos sobre a estória. Ficamos juntos o dia inteiro, ao redor do fogo na maior parte do tempo, tocando violão e cantando. Jamais me esquecerei do “Se todos fossem iguais a você...”, cantado por todos os oito (nós), à beira da lareira, entre uma comoção absurdamente linda e mágica, típica desses momentos que vêm de não-sei-onde, talvez de um lugar para o qual falte um nome que lhe possa expressar, com um mínimo de fidelidade, a tamanha beleza que contém.

Saborear internamente
Santo Inácio de Loyola dizia que o principal para meditar é “saborear internamente as palavras”. Até agora estou saboreando as palavras do narrador de “A Partida do Audaz Navegante”. Eis o que ele me falou, sobre o amor inocente e doce de Zito e Ciganinha:

“Eles se disseram, assim eles dois, coisas grandes em palavras pequenas, ti a mim, me a ti, e tanto”.

Confesso que essas palavras desnudaram em mim um lugar que eu desconhecia. E pronto...

Thursday, June 23, 2005

Meu caro amigo


"Ah, se já perdemos a noção da hora..."

Daqui a pouco irei a uma apresentação de um “quarteto de jazz”. Os quartetados irão tocar 25 músicas do Chico. Estou ansioso para ouvi-los de novo. Eles mandam muito bem. Na última vez que os ouvi, começaram tocando “João e Maria”. E encerraram com “O que será?”. Tocaram também, entre outras, “Retrato em Branco e Preto”, “Beatriz”, “Feijoada Completa”, “Trocando em Miúdos”, “Iolanda”, “Cotidiano”...
Não vejo a hora de me sentar no Porto das Artes, acompanhado de alguns poucos e fiéis amigos, bem tranqüilo, com um copo de Bohemia na mão, e entrar em êxtase! Adoro esses momentos! Eles me salvam da chatice cotidiana, eles me salvam do “estou cansado de me ser”(né Déia!?).

Wednesday, June 22, 2005

Lasciate ogni speranza?


Dante e Virgilio (1822), Eugene Delacroix.

Entrei no POP e dei de cara com esta chamada: “'Ela só pega o meu resto’, diz Lívia Lemos sobre Cicarelli”. Pensei, cá com minhas teclas: e eu com isso? Será que os redatores do POP não encontraram nada mais interessante pra colocar no ar? Sério, que diferença a notícia de que a Cicarelli “pega o resto” da Lívia Lemos vai fazer na minha vida? O jornalismo está perdido na selva escura (aquela mesma, Italiano!). Tomara que haja uma Beatrice a interceder por ele no Paraíso. Devo ter esperança?

Tuesday, June 21, 2005

Sou Stanley Kubrick! Hahaha...


Faça você também Que gênio-louco é você? Uma criação de O Mundo Insano da Abyssinia

nossa vã filosofia...


"Dir wird gewiss einmal bei deiner Gottähnlichkeit bange!".

A vontade de postar algo se escondeu de mim, mas vá lá...
Estou lendo, por puro divertimento, o “Fausto”, do Goethe. É desnecessário fazer qualquer elogio sobre o livro. O Prólogo no Céu, no início da obra, me lembrou um pouco a história de Jó. Até agora, algumas frases me impressionaram. Compartilho-as:

“Penetrai bem profundo em toda a vida humana!
Se cada qual a vive, não muitos a conhecem,
A muitos ela engana”.
(Palhaço, Prólogo no Teatro).

“Do sol e das estrelas eu nada compreendo,
Atormentar os homens é só o que entendo,
E o homem há de ser sempre um grande toleirão,
Como no dia primeiro em que houve a criação”.
(Mefistófeles, Prólogo no Céu).

“Quero te agradecer. Dos que a morte elimina
Nunca me agrada muito a estranha companhia.
Quero vivos tentar, gordas faces rosadas,
Cadáveres desprezo sempre como o gato:
Vendo a presa morrer, logo abandona o rato”.
(Mefistófeles, Prólogo no Céu).

Saturday, June 18, 2005

entre o céu a terra


Campo de trigo com corvos (1890), Van Gogh.

Dois temas me impressionam, desde lá do meu profundamente: a morte e a solidão. Sol e girassol, volto a eles. Mas mesmo o que acontece, desconfio, é que nem volto, nem vou. Porque não me saem, sempre nunca, de mim. E esse jeito tosco de escrever, de me repetir, de redundar-me em mim depois de mim, talvez seja o desejo da água na pedra, a bater, a bater, a procurar o espaço onde não há. Onde a é apenas a, e não (respiração suspensa) há. O desejo de passar ao que não passa? Será a alegria o pequeno sertão de eternidade que posso tocar neste vale de páginas? Morte e solidão não me saem, não me saem. Escrevo porque morro? E sozinho?

Friday, June 17, 2005

Fale com ela


a ternura em filme

Hoje assisti ao “Hable com ella”, do Almodóvar. O filme, feito de comunicação e incomunicação, é uma ternura só. A ternura que surge exatamente naquele limiar entre a loucura e a sanidade. Benigno, o enfermeiro que cuida de Alicia, é o retrato do que o seu nome expressa. Gosto disso, aliás; gosto dessas relações de complementaridade entre o nome dos personagens e o próprio agir deles.
O Almodóvar é fenomenal. “Hable com ella” é um quebra-cabeça que vai sendo completado aos poucos, em desordem, como a vida. Ou alguém acha que existe ordem em tudo o que nos acontece? Sinceramente, porque creio, descreio. Confuso? Talvez. Vívido, prefiro. Vivido.

(Escrevi escutando Elis Regina. E dei-me conta de que também quero uma casa no campo!)

Monday, June 13, 2005


dias estranhos...

Com relação à faculdade, estou assim:

Socorro
(Arnaldo Antunes e Alice Ruiz)

Socorro, não estou sentindo nada
Nem medo, nem calor, nem fogo
Não vai dar mais pra chorar
Nem pra rir
Socorro, alguma alma mesmo que penada
Me entregue suas penas
Já não sinto amor nem dor
Já não sinto nada
Socorro, alguém me dê um coração
Que esse já não bate nem apanha
Por favor, uma emoção pequena, qualquer coisa
Qualquer coisa que se sinta
Tem tantos sentimentos, deve ter algum que sirva
Socorro, alguma rua que me dê sentido
Em qualquer cruzamento,
Acostamento,
Encruzilhada
Socorro, eu já não sinto nada

Sunday, June 12, 2005

Aos enamorados


Namorados no Café (1950), Roger Chastel.

Soneto da Fidelidade

De tudo, meu amor serei atento
Antes, e com tal zelo, e sempre, e tanto
Que mesmo em face do maior encanto
Dele se encante mais meu pensamento.

Quero vivê-lo em cada vão momento
E em seu louvor hei de espalhar meu canto
E rir meu riso e derramar meu pranto
Ao seu pesar ou seu contentamento.

E assim, quando mais tarde me procure
Quem sabe a morte, angústia de quem vive
Quem sabe a solidão, fim de quem ama

Eu possa me dizer do amor (que tive) :
Que não seja imortal, posto que é chama
Mas que seja infinito enquanto dure.

Vinícus de Moraes.

Saturday, June 11, 2005


o rebento

Pensei em um assunto para postar. Mas só encontrei ausência. E talvez a falta dele e a presença dela me digam muito. O cansaço bateu em mim, como em quase todos os blogueiros da nossa blogosfera (tens razão, Tiago, que palavrinhas horríveis!). Só que meu cansaço vem de não sei onde, parece até que me precede. Já nasci cansado? Será que antevi as chatices do mundo? Será que vaticinei sobre eu mesmo, vendo-me não-adaptado? Acho que é por isso que preciso rezar. É a busca pelo eterno que me consola da oquidão (sei que essa palavra não existe, mas me permitam inventá-la). O amor também me consola da oquidão (gostei dessa palavra, minha filha!). Tá, perdi completamente o raciocínio! Será que comecei a escrever apenas para parir a oquidão? Engravidei-me dela, sem saber? Quando?...

Friday, June 10, 2005

Meditação sobre a palavra "Deus"


Karl Rahner: "A palavra 'Deus' existe".

Há alguns dias li um texto do teólogo Karl Rahner, S.J., sobre a palavra “Deus”. Fiquei, confesso, encantado. Rahner diz que o simples fato de a palavra “Deus” existir já merece reflexão. O raciocínio do teólogo, por momentos, é intrincado, mas não pouco compensador. Sigamo-lo, portanto: “...não temos nenhuma experiência de Deus do tipo da que temos de uma árvore, de outra pessoa humana ou de outras realidades externas que, embora talvez nunca existam para nós simplesmente sem palavras, contudo por si mesmas forçam o nascimento de uma palavra sobre elas porque simplesmente surgem no âmbito de nossa experiência em determinado ponto do espaço e do tempo e, assim, por si mesmas, elas impulsionam imediatamente a que se lhes dê um nome. Podemos, portanto, dizer que o que existe de mais simples e ineludível para o homem com respeito à questão de Deus é que a palavra ‘Deus’ existe em sua vida espiritual e intelectual”.

Segundo Rahner, mesmo um ateu ajuda a palavra “Deus” a se perpetuar. Ele diz ainda que se alguém quisesse evitá-la “não só teria de esperar que na existência do homem e na linguagem da sociedade desaparecesse por completo, mas também deveria contribuir para este desaparecimento guardando completo silêncio, abstendo-se de se declarar ateu. Mas como poderia fazê-lo se outros, de cujo campo lingüístico não pode definitivamente emigrar, continuam a falar de Deus e se preocupam com essa palavra?”.

A palavra “Deus”, conforme o teólogo, não fala nada sobre o que significa ou sobre a realidade significada, nem pode exercer sequer a função de um aceno de mão que aponte para algo que se encontre imediatamente fora da palavra e, por isso, não precisa dizer nada sobre este algo. Complicado? Mais ou menos.

Digamos que a palavra “Deus” seja sem rosto. Ou seja, ela não se refere por si mesma a uma experiência singular definida. E por isso mesmo está em plenas condições de nos falar corretamente sobre Deus.

Para mim, o ápice do texto de Karl Rahner está aqui: “Ela (a palavra ‘Deus’) está sempre exposta ao protesto de Wittgenstein, que manda guardar silêncio sobre o que não se pode falar com clareza, mas que infringe essa máxima pelo próprio fato de a expressar. A palavra mesma, se bem entendida, concorda com essa máxima. Pois ela é a última palavra antes do silêncio que se emudece sem palavras em adoração perante o mistério inefável”.

A palavra “Deus” é a última antes do silêncio, é a última palavra antes daquilo para o qual não há palavras. Para o meu peito, que tem andado tão seco, essas meditações foram como chuva sertaneja.

Thursday, June 09, 2005

Jô Soares e seus assassinatos


Se depender da ABL, Machado de Assis nunca descansará em paz.

O Juremir Machado, professor da PUC-RS, detonou com o último livro do Jô Soares. Em sua coluna no Correio do Povo, Juremir, com a ironia de sempre, disse que o romance do “gordinho simpático” é o pior que ele leu nos últimos dez anos.
Há quem goste do Jô. Eu, sinceramente, não. Acho que ele não tem tanta inteligência como dizem. Já o vi – mais de uma vez, diga-se de passagem - acabar com uma entrevista que teria tudo para ser ótima, se ele deixasse o entrevistado falar, em vez de ficar gracejando.
O Brasil é pródigo, infelizmente, em cultuar imbecis. Sobretudo, escritores imbecis. A própria Academia Brasileira de Letras (ABL), bem-fundada por Machado de Assis, é hoje um monumento dedicado à mediocridade literária e aos interesses econômicos. Ou alguém é capaz de me explicar de outro jeito como o Paulo Coelho e o Ivo Pitanguy estão lá dentro? E o Marco Maciel? E o que dizer, então, da passagem de Roberto Marinho por lá? Banalizaram o que era pra ser a casa da literatura no Brasil, banalizaram! E pensar que já ocuparam aquelas cadeiras escritores como Guimarães Rosa, Drummond, Manuel Bandeira, Olavo Bilac, Rui Barbosa e Álvares de Azevedo. E pensar que o Quintana (o “eu passarinho”) não conseguiu entrar pra ABL! “Viver é mesmo muito perigoso...”
Bom, irritações à parte, eis o imperdível final que o Juremir escreveu em sua coluna no Correio do Povo sobre o livro do Gordo que manda beijo:

Não há dúvida de que uma obra-prima como essa credencia Jô Soares a uma cadeira na ABL. Ao mesmo tempo, valoriza imortais sem obra como Ivo Pitanguy, que vestiu o fardão sem ter passado por tal vexame. A intriga não vale um suspiro quanto mais uma série de cadáveres. Jô Soares podia dar uma espiadinha no estilo contemporâneo dos romances de Fred Vargas antes de cometer seu crime contra a ecologia de 252 páginas. Há, porém, algo de original no livro: o nome do assassino já vem na capa.

Wednesday, June 08, 2005

cem sonetos a uma mulher (e a todas)


Neruda, o papel e a caneta: amantes?

Como estou sem tempo, e com sede de coisas bonitas, deixo um dos cem sonetos que o Neruda fez para a Matilde.

Soneto XVII

No te amo como si fueras rosa de sal, topacio
o flecha de claveles que propagan el fuego:
te amo como se aman ciertas cosas oscuras,
secretamente, entre la sombra y el alma.

Te amo como la planta que no florece y lleva
dentro de sí, escondida, la luz de aquellas flores,
y gracias a tu amor vive oscuro en mi cuerpo
el apretado aroma que ascendió de la tierra.

Te amo sin saber cómo, ni cuándo, ni de dónde,
te amo directamente sin problemas ni orgullo:
así te amo porque no sé amar de otra manera,

sino así de este modo en que no soy ni eres,
tan cerca que tu mano sobre mi pecho es mía,
tan cerca que se cierran tus ojos con mi sueño.

(Neruda, Cien sonetos de amor).

Tuesday, June 07, 2005

como amar de novo


A persistência da memória (1931), Salvador Dalí.

Esquecer o que é importante (existencialmente importante, leia-se) me incomoda. Já tinha dito isso em um comentário no blog da Fá. Bom, há tempos escrevi um poema para, creio, não me esquecer de que é importante não me esquecer do que é importante.

Do esquecimento

Eu saio, de mãos dadas comigo,
quando o tempo do agora cansou,
e vou-me a reviver.
Há muitos momentos que, tiranamente,
me proíbo de esquecer.
Para mim,
é como morrer e matar, esquecer.
Lembrando sempre, assim é que permaneço,
de forma diversa, ligado a tudo que me fez homem-humano.
Lembrar é como amar de novo,
e eu preciso tanto.

Monday, June 06, 2005


a ausência, a saudade e o silêncio

Ontem minha mãe me disse, depois de tomarmos um café bem forte, com a voz empapada de tristeza e reticências: “Ai, eu sinto uma saudade de minha mãe...”. Desatinei. Minha avó morreu há 20 anos. E há 20 anos, só ontem percebi, minha mãe carrega uma solidão incurável! Abracei-a, com os meus braços pequenos. Desejei ter as asas de todos os pássaros para abraçá-la mais, voá-la para Lá, para o além da tristeza. Imaginei que essa solidão, sorridente, em algum lugar bem próximo, talvez em uma xícara de café, me vigia e espera. E, confesso, chorei. Como um menininho, chorei.

Saturday, June 04, 2005

Semiótica: entre Kant e Hegel


Bom Momento (1997), Goca Moreno.

Escrevi esta frase em um comentário no blog do Tiago: “Aliás, será que tudo é mediação?”. É ou não é? É e não é? Segundo os semióticos, toda a experiência humana é mediada e sustentada por signos. Ou seja, acesso direto ao Real nós não temos. A nossa mente produz representações da realidade (signos), mas que não são a realidade em si mesma. Os signos têm o poder de representar o objeto apenas em determinado aspecto. O que, convenhamos, é óbvio. Se o signo pudesse representar inteiramente o objeto, ele não seria somente um signo, mas o próprio objeto.
A semiótica (e a desconstrução que ela traz) é interessante para uma melhor compreensão de algumas linguagens. Contudo, ainda fico com a intuição para a tentativa de compreender a vida. Isso porque a vida é um emaranhado de outros milhões de emaranhados que se emaranham entre si (filosofia pura! rs, rs). O que me resta saber é se a semiótica pode ajudar na compreensão de uma obra literária. O meu TCC é sobre isso, basicamente. Tenho minhas dúvidas, ainda bem, se ela (a famigerada semiótica) dá conta de uma “superinterpretação”. Sei lá!? E não me desespero. Pesquisar é, antes de tudo, duvidar.
Cada vez que penso sobre o meu TCC, me sinto como alguém que, entre milhões de teias (de aranha ou de algum outro bicho menos assustador que também “teie”), tateia no escuro. Tudo é mediado, enfim, na escuridão? Não, acho que não. Apenas a nossa percepção dos fenômenos – e isso já é muito!

Friday, June 03, 2005

disfarce e resistência


Liberdade guia o povo, Delacroix.

A vaidade e o egoísmo vêm, com freqüência, disfarçados de solidariedade ou de amor ao próximo. E isso me irrita tanto, tanto!!! Conheço pessoas que são pródigas em palavrear, que falam como se estivessem sempre discursando a súditos. Sério, me poupem! Não agüento mais a conversinha “oprimidos versus opressores”; que redução tamanha do que é o homem e sua circunstância! Se querem dividir a humanidade para melhor análise, dou uma sugestão: de um lado, os que amam; do outro, os que não. Não me venham mais falar, mesmo com lágrimas ou pseudo-tais nos olhos, que há mais alma nos que não “descansarão” enquanto houver opressão. Em nome da desopressão, muito já se matou, e oprimiu. Não me tomem por reacionário, no entanto, pois sou longe disso. Mas também não me venham querer empurrar goela abaixo a idéia de que só existe luta por melhores condições de dignidade quando se levanta a bandeira socialista. Antes de tudo, o homem, a humanidade. A palavra – a justa - é luta. A literatura é luta, em duas frentes: interna e externa. A vida, essencialmente, ainda que não se perceba, é luta. Contra o tempo, em última análise. E o tempo, paradoxalmente, é o meio da vida. O tempo é o meio de a vida. Guardo ressalvas dos tristes “revolucionários” tristes, porque toda tristeza, se contínua, ao menos para mim, já é um pequeno sinal da ausência de esperança.
Deixo um poeminha meu, escrito no ano passado, que mostra um pouco a luta (minha, e de outros tantos), na literavida:

resistência

escrevo para dizer não
e que minha negativa possa ser a coragem funesta
daqueles que já não podem dizer mais nada
por eles (e por mim) digo
não!

Thursday, June 02, 2005

intenção e gesto


escrever, escrever...

Comecei hoje um conto que não sei bem aonde vai parar. Mas como sou um bom mentiroso, escrevi em uma parte lá: “Embora nem desconfiasse, aquela poltrona aguardava-o, especialmente. E o desfecho dessa estória nos dará a certeza de que não há acaso, mesmo nos vagos assentos dos ônibus”.
Será? É engraçado, mas pela primeira vez começo a escrever com uma vaga idéia do que quero não dizer. Talvez seja um sinalzinho de maturidade. Talvez seja só talvez. Quero tentar mostrar a ternura que surge nas pessoas inesperadas, nos momentos menos esperados, no ralar do dia-a-dia. Quero não mostrar a crueza. Chega dessa tristeza emudecedora. Quero mostrar a reconciliação com a alegria, com a festa que pode ser viver (quando se tem sentido para). Tomara que eu consiga!

Wednesday, June 01, 2005

Det Sjunde Inseglet


"angústia de quem vive", do Soneto da Fidelidade, V.M.

“O Sétimo Selo”, de Ingmar Bergman, é um dos meus filmes preferidos. A simples possibilidade de decidir (e tentar compreender) a vida em um jogo de xadrez com a Morte é - no mínimo – fascinante, angustiante e poética. Ao contrário do que alguns pensam, o cavaleiro que joga xadrez com a Morte não teme morrer. Ele apenas quer mais tempo para tentar conseguir algumas respostas sobre a própria vida. Bom, deixo que o próprio Bergman fale sobre o assunto:

Em meu filme o cavaleiro regressa das Cruzadas, como hoje um soldado regressa da guerra. Na Idade Média, os homens viviam o temor da peste. Hoje vivem o temor da bomba atômica. O Sétimo Selo é uma alegoria com um tema muito sensível: o homem, sua eterna busca de Deus e a morte como única segurança.