Thursday, September 22, 2005

otilchera, unammeel tnak, aros

O rio se estende por sobre o sempre, eterno, irrepetível. Ao longo de suas beiras, fecundas de tão, gentes as mais variadas buscam o suco do alimento imperecível. Mas tudo o que existe no lado de Cá padece, perece, se vai, esvai: sofre, a ação do tempo. Será? O tempo, dono de excelente memória, existe fora de nós? Navego mal nestas altas idéias. Reconheço, no entanto, que dia e noite surgem e desaparecem, sucedem-se um ao outro, como se dançassem. Percebo agora, a súbita iluminação, o tropeço: dia e noite só se encontram mesmo, definitivamente, na morte. Sim, é na morte que noite e dia são uma só carne: marido e mulher. É na morte que o tempo não mais, mata, não mais. O remédio – sem ironia, infalível remédio da longa vida, a sonhada fonte da juventude - é propriamente este: morrer, mergulhar.

(antes que me perguntem: o título deste post é um anagrama).

Thursday, September 15, 2005

Tudo é mistério...

Começo. E não sei, desde o início. Aliás, o início é, sempre foi, um mistério. Assim como o fim, se é que existe um. Travessia, eis a vida. Socorro, alguém me dê um novo léxico. Tenho medo de não conseguir dizer nada do que queria dizer com estes arranjos. Tudo é mistério, redefino. Que loucura estes meus dedos presos às minhas mãos presas ao resto do meu corpo movido por impulsos deste meu cérebro que ora sim, ora não, funciona sem dor! Morrerei? De câncer? De sífilis? De aids? De tédio? Morrerei, tenho a impressão, do coração: ele sempre bateu muito; cansará, um dia. Que loucura isto que penso e que vem de não-sei-onde, mas que é, ainda assim, parte de mim, talvez a parte mais parte-parte de mim, que se reparte em outra arte de amar-te e me ter-te sentido enfim, em mim! Que loucura, repenso, estes meus dedos que tocam nas teclas certas para que eu possa escrever certo em caixa baixa e pensar que quero escrever certo em caixa baixa, tudo num quase-piscar de olhos desduradouros. Ai, os compromissos. Acabo de me lembrar de dizer aos meus dedos, que loucura!, que preciso sair, renovar a Bolsa, informaticaplicarmear, imprimir algumas merdas que escrevo e, ao fim do dia, descansar, nos braços de quem me entende, silenciosamente, nos braços de quem tem me ensinado a amar, e já amo, que loucura!, nos braços de quem me entende!

Monday, September 12, 2005

Ausência, silêncio e meditação

Pois é, deixei o blog às traças. Como bem disse o Tiago, fiquei mais de um mês sem postar uma linha sequer. Por quê? Não sei, sinceramente, não sei. Mas garanto, com todas as minhas garantidas garantias, que não deixei de viver um mísero-mínimo-segundo deste agostúltimo. Aliás, vivi tantas, muitíssimas coisas: desenormes alegrias. E pensei muito, muito.... e ainda mais outro tanto! A qual conclusão, depois de tanto pensar, cheguei? Sim, à única possível: à de que não quero passar em branco pela vida., à de que quero deixar algumas marcas. Sim, à conclusão inconclusa de que quero, sim, quero aprender a amar, amando. (Gostei dessas crases todas, ultrajantes crases...).

Jornada
Prometo postar, em breve, algo sobre a 11ª Jornada Nacional de Literatura. De tudo, a alegria do Ariano Suassuna em ser escritor me impressionou, fascinou e entusiasmou. Em outras palavras: fiquei cheio de Deus, acreditem, ao ouvir aquele velhinho falar.

Mini-conto
Bom, fica um mini-conto que escrevi há pouco. Em verdade, não sei direito o que quis dizer com ele. Do jeito que saiu, saiu. Talvez seja um pouco apressado, prematuro. O que me consola, aquieta e incentiva é a paciência de vocês, os que me lêem com calma.

O silenciado
Era uma vez um dia que acontecerá. Os maiores músicos, reunidos com os mais respeitados matemáticos, constatarão, através de análises combinatórias e pacientes audições, que toda música já foi composta. Nada mais, nada mesmo, será musicalmente original: a repetição do repetido, apenas. Tristezas, tantas.
Porém, o que poucos sabem, ou desconfiam, é que mesmo um a pode vir a ser há. Reescrevo: quando tudo parece calmo, definido, é aí que o milagre estoura, mansamente. Certifico, dou fé.
Redefino.
Aconteceu, então, que um homem, doido dos mais, sertanejo, sujo e feio, poetizou:
"Eu quero a orquestra do silêncio humano, reticenciosa...".
Ninguém o entendeu, e talvez ninguém nunca entenderá nada mesmo: eis o imenso deboche desta nem tão divina comédia humana! Enfim, mataram-no, cantando. Silenciaram-no, sorrindo, silenciaram-no. Há, no entanto, quem jure, de pés e mãos juntas, que ainda o escuta nas noites de vento, a dizer silêncios, a cochichar liberdades, a assobiar o fim de fomes: as poesias, todas, sóis e girassóis!
Se o ouvires, em uma destas noites em que o vento assobia profundo, acenda uma vela, e reze, duas vezes reze: cante, em alto silêncio, cante.