Tuesday, May 31, 2005


Adélia Prado Posted by Hello

Descobrir a Adélia Prado é, na minha opinião (com a qual poucos se importam, é verdade, mas que ainda assim continua sendo minha), como encontrar um refúgio. Algo semelhante devia acontecer com os pré-históricos quando, em dias de frio e desabrigo, encontravam alguma caverna.
Sinceramente, eu queria muito que essa senhora fosse minha avó. E talvez seja, sem sabermos. Eis uma elegante esperança para um dia tão chato!
Sempre que me surpreendo cercado de livros quase-ocos (às vésperas de um TCC isso é comum), tento não esquecer deste poema. A mim, ajuda muito.


Ensinamento

Minha mãe achava estudo
a coisa mais fina do mundo.
Não é.
A coisa mais fina do mundo é o sentimento.
Aquele dia de noite, o pai fazendo serão,
ela falou comigo:
"Coitado, até essa hora no serviço pesado".
Arrumou pão e café, deixou tacho no fogo com água quente.
Não me falou em amor.
Essa palavra de luxo.

Adélia Prado.

Sunday, May 29, 2005

“Confesso que vivi”


Nobel de literatura entregue a Neruda (1971) Posted by Hello

Passagem extraída da autobiografia de Neruda:
“A verdade é que todo escritor deste planeta chamado Terra quer alcançar alguma vez o Prêmio Nobel, inclusive os que não o dizem e também os que o negam”.

Saturday, May 28, 2005

a saída e o talvez


Ainda não vi labirinto desinteressante Posted by Hello

Resolvi escrever assim, sem pensar. E do jeito que isso tá saindo, tá saindo... Não sei bem como vai terminar. Aliás, não sei bem de muita coisa. Talvez hoje me importe a alegria. Sim, essa mesmo, que extravio diariamente, quem sabe por penosa sina. Eu queria poder dizer que levaria borboletas nos bolsos, se pudesse. Mas detesto prisões. Rejeito, em mim, toda forma de subserviência. Quero a alegria das coisas naturalmente simples. Quero as borboletas nas matas, nas flores do campo, surpreendendo os distraídos. Surpreendendo-me. Eu, que ando pela rua sempre pensando em outra coisa. Incorrigível. Eu, que na maior parte do dia vivo dentro de mim. Eu, que me perco em meus labirintos. Talvez algum dia eu encontre a saída. Talvez me encontre, cercado de borboletas, ou estrelas, na saída. Tudo, no fim, ainda é talvez.

Thursday, May 26, 2005

“Se você quer ser minha namorada...”


Penélope Cruz. Posted by Hello

Com todo o respeito às mulheres com as quais convivo, mas essa espanhola é o que há! Ainda mais agora que fiquei sabendo que ela fez 14 anos de balé e três de dança flamenca. Imagina só que loucura deve ser assistir a essa mulher dançando, com direito a castanholas e tudo o mais. Valei-me, Deus!

Wednesday, May 25, 2005

“¿Qué gigantes? dijo Sancho Panza”


Don Quijote, Picasso. Posted by Hello

Eu tenho um sonho, bem no in-dentro de mim, quase adormecido de tão vivo, eu tenho um sonho. Estou certo de que se trata de um quixotismo. Pois bem sei que vejo gigantes em moinhos. E, ora sim, ora não, moinhos gigantes. Seja o que for, o que eu sonhe, ou o que exista, da ventura de crer não abdico. Às pás, Rocinante!

(Em outra hora escreverei com calma sobre o capítulo VIII, de Dom Quixote).

Tuesday, May 24, 2005

Muçulmanos, judeus e cristãos


Mapa da Terra Santa, com símbolos cristãos. Posted by Hello

O IISS (Instituto Internacional de Estudos Estratégicos), sediado em Londres, divulgou uma pesquisa dizendo que o Oriente Médio está mais seguro do que há um ano. Tomara mesmo que árabes e israelenses dêem um jeito de se entender. Ainda bem que os cristãos já saíram dessa briga pela “Terra Santa”. Sinceramente, era o mais lógico a ser feito para os que acreditam em Cristo. Se Deus entregou o seu próprio filho, por que ficar brigando por um pedaço de terra?

Monday, May 23, 2005

Africanos: artistas da fome


Criança morta, Portinari. Posted by Hello

Acabei de ler uma matéria que falava acerca de um estudo sobre a pobreza e a desigualdade social na África. Os pesquisadores chegaram à conclusão de que o número de pobres praticamente dobrou entre 1981 e 2001 neste continente de mil-e-tantas misérias. Para se ter uma idéia, o estudo revela que 46% dos africanos vivem (sobrevivem!) com menos de MEIO dólar por dia. Eu, que não sou abastado, acabei de almoçar bem mais que isso!

Káfrica
Os africanos são kafkianos, sim, são artistas da fome. A triste diferença é que, ao contrário do jejuador de Kafka, os africanos são obrigados a jejuar. Jejuam por livre e espontânea obrigação.

Contradição
O inaceitável, no entanto, é que, ao mesmo tempo em que a pobreza e a desigualdade social aumentaram na África, houve crescimento econômico. Sinceramente, quero distância desse tipo de “progresso”! O texto da matéria, para exemplificar essa afirmação (ou seja, para continuar a tratar cada ser humano como um número apenas), diz que “segundo o FMI, a economia da Guiné Equatorial cresceu 34% em 2004, puxada pela cotação do petróleo, mas isso teve pouco impacto sobre a pobreza do pequeno país do oeste africano”.

Motivos
Dentre os motivos apontados pelos analistas (palavra usada com freqüência no jornalismo para conferir credibilidade a explicações que não explicam muita coisa) para a existência dessa contradição estão a má gestão administrativa, a grande dependência de commodities e os “gastos excepcionais com doenças”. Sim, quer dizer que os africanos ainda têm culpa por adoecerem. Convenhamos, os jornalistas andam cada vez mais coniventes e ridículos com as explicações estapafúrdias.

Ausência
Eu não vi na matéria nenhuma referência sobre alguma possível maneira de melhorar a subvida dos africanos. Acho que é justamente isso o que falta: pensar em como se pode melhorar as coisas. O jornalismo é pródigo em apresentar desgraças, mas miserável em buscar soluções ou possíveis solucionadores.

O incômodo
Desde o início deste texto até aqui, quantos devem ter sido mortos pela fome na Káfrica? Não consigo não pensar nisso.

Sunday, May 22, 2005

Impressionante


Reconstituição do quarto de Van Gogh.Posted by Hello

Em Arles, um cenógrafo e um decorador de teatro homenagearam Van Gogh com uma minuciosa reconstituição de um de seus quadros mais famosos: “O quarto” (outubro-1889). Sim, é isso mesmo. Eles montaram um quarto, a partir da tela de Van Gogh. Pela foto, dá pra ver que o resultado foi maravilhoso. Pra quem sempre quis entrar em um quadro, aí está a oportunidade.

O Óleo de Lorenzo (o sentido do sofrimento)


Guernica (Picasso).

Nunca vi tanto sofrimento junto em um filme. Os pais de Lorenzo descobrem que ele tem uma doença degenerativa, que ainda é pouco conhecida pela medicina. Os médicos (cientistas-lógicos-racionais-desapaixonados) afirmam que a criança não viverá mais por muito tempo. E, de fato, Lorenzo começa gradualmente a perder os sentidos.

Sofrimento após sofrimento, os pais – por causa de seu imenso dever-de-amor - não desistem de tentar salvar seu filho. Ambos se atiram a pesquisar sobre possíveis novos tratamentos que poderiam ao menos retardar a morte do menino.

Durante o filme, amigos e familiares chegam a sugerir que seria melhor abandonar qualquer tratamento e deixar Lorenzo morrer, por causa do sofrimento que ele estava passando.

Bom, não vou contar o final do filme, o que seria um crime. Mas quero dizer que a questão toda pra mim está aí, clara como um espelho (piada, os espelhos são os objetos mais labirínticos que conheço, mas vá lá...): por que mentimos a nós mesmos? Me explico: por que nos escondemos atrás de falsidades? Me explico ainda mais: no filme, as pessoas sugerem deixar Lorenzo morrer porque não agüentavam mais sofrer ao ver o sofrimento dele. Não era pelo sofrimento do garoto que elas imploravam o fim, mas pelo fim do seu próprio sofrimento.

Por que nos é tão difícil de enxergar um sentido no sofrimento? O filme aponta uma possível resposta: o sofrimento tem sentido pelo outro. Entende-se o sofrimento (o que não significa deixar de lutar contra ele) quando ele pode trazer um bem maior para o outro. Fora disso, é quase impossível. Espero que eu consiga viver isso quando sofrer.

Ah, ia me esquecendo: o filme é baseado em uma história real.

Protesto


Fat Family Posted by Hello

Confesso que gosto muito dos quadros sobre gordos. Acho tri bonito. Só vejo uma baita sacanagem nisso tudo: por que não há quadros de gordos correndo, caminhando? Se alguém souber de algum, por favor, me avisa! Eu só vejo eles retratados em uma imobilidade absurda!

Desabafo


Roland Barthes lendo um pouquinho

Agora dei pra desabafos. Era só o que me faltava! Do que sei, afinal? Tudo é escuro-claro. Apenas cumpro, em mim, a sina.

Eu queria tanto tão pouco. Liberdade, antes de ser vivida, é palavra que precisa ser escrita (sem esquecer as asas). Não sei se concordo com o Barthes quando diz que “todo discurso é fascista”. Mas quando ele coloca que só a literatura pode libertar, aí sim, me rendo. Não há nada mais frustrante do que este nosso mundo tido por – pasmem, os que me sentem – lógico. O mundo não é lógico. A vida não é lógica. Viver não é lógico. Um lógico não é lógico. Querer ser lógico é assinar um termo de escravidão, um termo de antivida em si mesmo. Eu quero a perplexidade das coisas que me ultrapassam infinitamente. EU NÃO QUERO O MUNDO PRODUZIDO EM SÉRIE! Eu quero ouvir o barulho do rio e enxergar não-vendo os seus movimentos invisíveis. Eu quero um soco! Um beijo roubado. Eu quero essa palavra pequenina que se chama: liberatura!

Friday, May 20, 2005

Mercúrio, Júpiter e Lua

Dizem os “entendidos” em astrologia que, nos últimos dias de maio, Mercúrio e Júpiter estarão harmonizados, o que supostamente criará um ambiente propício a acertos políticos e negociações que envolvam dinheiro.
Traduzindo: os deputados e senadores em Brasília podem preparar a festa, porque o período da maracutaia está instituído e devidamente abençoado pelas conjunções astrais. Ou seja, o alinhamento de planetas liberou a roubalheira.
E tem mais: andam dizendo por aí que Vênus e Júpiter, associados à Lua cheia, criam o momento perfeito para que os comerciantes encham os bolsos, pois haverá uma “onda de consumismo” em todo o país. Enfim, o tão-esperado slogan: Lua cheia – Bolso cheio! Rá – rá – rá!
Fala sério:
Qual a diferença substancial entre, por exemplo, a Lua cheia e a minguante? Uma é mais lua que a outra? Conheço um cara que sempre cortou os cabelos conforme as fases da Lua. Hoje já não precisa cortar mais nada. O tempo se encarregou de fazer isso por ele. A calvície veio independentemente do tamanho da Lua no céu.
Às vezes, mesmo da mentira surge a verdade. Repare: segundo os mesmos “entendidos”, o maior cuidado deve ser tomado no fim do mês. De novo, rá – rá – rá! No fim do mês de quem ganha esse salário de fomes, todo o cuidado sempre é pouco. Eu mesmo, no fim do mês, só entro pela porta dos fundos. Vá que algum cobrador me veja! Ah, a gente sofre, mas se diverte!

Quem me escreve?

“A palavra é a casa do Ser”,
Martin Heidegger.

Cada um conhece perfeitamente, ainda que só intua sobre, aquilo que o torna feliz. Não falo do bem-estar vulgar, daqui, perecível como uma maçã. Refiro-me a fenômenos mais sutis, ao gosto que toca a alma, essa coisa inquietante que grita dentro de nós. Refiro-me ao transcendente, às raias do mistério mais fechado, dono de outros sentires. Apresso-me, porém.
Digo com certeza que não sei quem é este que escreve por mim. Não sei bem se sou eu mesmo, ou se quem escreve é um pedaço de mim, um personagem, personagem-escritor apenas. Talvez este que escreva, quem sabe, seja alguém que eu queria ser: meu eu verdadeiro, o eu-mesmo: mistura do que fui, do que estou sendo e do sei-lá-o-quê que virei a ser, minha projeção. Por favor, me desculpe se lhe incomodo com meu jeito de pensar, mas acontece que estou quase me formando. Não se irrite, por tanto, por tão pouco! Acontece ainda mais, comigo, nestes dias esquisitos: com a formatura, parece que se vai algo de mim. Parece que pela primeira vez na vida vou ter juízo. De quê? Meu Deus, assusta-me tal clarividência, a ponto de não me perdoar por tê-la: a certeza – verdade interior inexplicável! - de que estou morrendo.
Reconheço que não sei por que teimo em escrever assim, doendo-me. Tudo o que eu mais queria agora era um abraço, sem pressa. Mas escrever é um ato solitário, assim como morrer. Sim, não se iluda, morre-se sozinho.
Eu poderia escrever os versos mais felizes nestes dias, porém não consigo. A dor sempre me tocou mais. Enquanto todos festejavam São João, eu temia o estouro dos fogos, e doía. Ainda hoje, confesso, não gosto deles, e continuo doendo. Percebo agora (a súbita iluminação, o tropeço): se realmente sou eu que escrevo, faço-o por mim, pra me livrar. De quê? Da morte, eu acho. Quem escreve não morre. Se há mesmo um depois, certamente a ponte para ele é feita de palavras. No juízo final Deus absolverá todos os poetas, mesmo os comunistas.
E eu preciso tanto de Deus. Enxergo em mim a limitação que sou. Tenho quase 1,60m. Ou seja, como diria Ferreira Gullar, “este é o meu tamanho no mundo”. O meu tamanho no mundo é quase 1,60m. Por isso, preciso de Deus, imensamente preciso de Deus. Porque eu preciso de Deus é preciso que Deus exista. Se não fosse a esperança de vê-lo, face a face, na outra margem do rio, o que seria de mim eu não sei. Era sobre isso que eu me apressava ao falar no início, sobre o mistério mais fechado, o mistério de ter esperança contra toda a desesperança que se força sobre mim. O mistério de ser feliz, ainda que a tristeza se force sobre mim. O mistério de sorrir sem motivo, ainda que tenha tido muitos motivos para chorar ultimamente. O mistério, sim, o mistério: quem me escreve?
Encerro por aqui, o senhor vê? Falei de mim, o que muito me custa. Me desculpe pelo incômodo. Apenas lhe faço uma última pergunta: será que fui claro?

Mal ou bem treinados?

Imagine alguém acorrentado pelos punhos no alto de uma cela. Mais: imagine vários guardas espancando sem piedade as pernas desse prisioneiro. Se não for pedir muito, imagine ainda mais: que o prisioneiro não resista aos maus tratos e morra. Confesso que bom seria se isso tudo fosse apenas imaginação.
Segundo afirma o New York Times, um relatório "secreto" das Forças Armadas dos EUA contém detalhes minuciosos de torturas praticadas por soldados norte-americanos contra afegães. O mais irônico (e mais triste também) é que o jornal descreveu os militares torturadores simplesmente como "soldados jovens e mal treinados".
Com certeza, eles devem ser jovens. Contudo, mal treinados não dá pra engolir. Me pergunto: um soldado é treinado para quê? Por acaso, dentre as suas habilidades não está a de matar? Resta a dúvida: born ou não to kill?